domingo, 30 de outubro de 2011

“Morre e transforma-te!”

"Milho de pipoca que não passa pelo fogo continua a ser milho de pipoca, para sempre.

Assim acontece com a gente. As grandes transformações acontecem quando passamos pelo fogo. Quem não passa pelo fogo fica do mesmo jeito, a vida inteira. São pessoas de uma mesmice e dureza assombrosa. Só que elas não percebem. Acham que o seu jeito de ser é o melhor jeito de ser.

Mas, de repente, vem o fogo. Pode ser fogo de dentro. Há sempre o recurso aos remédios. Apagar o fogo. Sem fogo o sofrimento diminui. E com isso a possibilidade da grande transformação.

Imagino que a pobre pipoca, fechada dentro da panela, lá dentro ficando cada vez mais quente, pense que sua hora chegou: vai morrer. De dentro de sua casca dura, fechada em si mesma, ela não pode imaginar destino diferente. Não pode imaginar a transformação que está sendo preparada. A pipoca não imagina aquilo de que ela é capaz. Aí, sem aviso prévio, pelo poder do fogo, a grande transformação acontece: PUF!! — e ela aparece como outra coisa, completamente diferente, que ela mesma nunca havia sonhado. É a lagarta rastejante e feia que surge do casulo como borboleta voante.

'Morre e transforma-te!' — dizia Goethe.

Em Minas, todo mundo sabe o que é piruá. (…) Piruá é o milho de pipoca que se recusa a estourar.

Meu amigo William, extraordinário professor pesquisador da Unicamp, especializou-se em milhos, e desvendou cientificamente o assombro do estouro da pipoca. Com certeza ele tem uma explicação científica para os piruás. Mas, no mundo da poesia, as explicações científicas não valem.
Piruás são aquelas pessoas que, por mais que o fogo esquente, se recusam a mudar. Elas acham que não pode existir coisa mais maravilhosa do que o jeito delas serem.

'Quem preservar a sua vida perdê-la-á'. A sua presunção e o seu medo são a dura casca do milho que não estoura. O destino delas é triste. Vão ficar duras a vida inteira. Não vão se transformar na flor branca macia. Não vão dar alegria para ninguém. Terminado o estouro alegre da pipoca, no fundo da panela ficam os piruás que não servem para nada. Seu destino é o lixo."

A Pipoca, Rubem Alves.

Não quero ser piruá!


terça-feira, 18 de outubro de 2011

in memoriam.

Não guardo lembranças do que senti na semana que antecedeu o meu último vestibular. No entanto, lembro da semana do meu último aniversário. Essas datas, antes suficientemente espaçadas, resolveram encontrar-se, em memória dos anos de colégio. E aqui estou: 18 de Outubro, véspera do meu aniversário; antevéspera do ENEM. O convívio com a UFAL não me preparou bem para esse momento, me acostumei a ter festa, nada pra fazer ou algo adiável... Foi lá também que conheci o imperador jeitinho, procrastinador sem culpa,  a quem agora saúdo.

Este ano não haverá festa. Há muito o que se fazer nestes últimos dias.
E preciso lembra-lo, seja você quem for, de que se corro agora, é por meu direito.

Em memória do meus 19 anos, assino: