domingo, 8 de abril de 2012

Confiar.

"[...] Você era destemida. Você era incrível. Entrou comigo e já começou a sorrir, brincar e espirrar água para todo lado. Você tinha confiança. E não era só na natação, você tinha confiança nas coisas, nas pessoas e no mundo. Você era assim. Sem medo. Eu adorava isso. Me orgulhava tanto e sentia inveja. Temia que você perdesse isso ao crescer, essa confiança, essa fé. Mas você não perdeu. E então eu falhei. Eu devia ajudá-la para que não as perdesse. Devia manter você segura. [...] Não sei se um dia você vai me perdoar, e não sei se você deveria, mas eu sinto muito."

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

CONTO CHINÊS.

"Querido Roberto,

Durante as 3 horas no ônibus até o povoado, não houve um só instante em que não pensasse em você.
É certo que mal te conheço, mas assim que te vi entrar na casa da minha irmã, senti que te conhecia da vida inteira...Talvez por que há duas coisas que logo percebo nas pessoas: a Nobreza e o Sofrimento, e você tem ambas."

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

(Projeto Sunlight, página 66)

Sybil: Bill estará em casa nesse dia e acho que ele vai consentir com meus desejos porque tem estado tantas vezes fora ultimamente. Quero que você o conheça. Fiz com que ele parecesse pavoroso, mas ele é um homem excepcional quando deseja.
Sunlight: Você o ama?
Sybil: Infelizmente, sim.
Sunlight: Por que infelizmente?
Sybil: Porque eu já teria construído uma vida mais gratificante há muito tempo se meu coração não começasse a pular dentro do peito nessas raras ocasiões em que ele entra pela porta.

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Desejo - Victor Hugo

"Desejo primeiro que você ame,
E que amando, também seja amado.
E que se não for, seja breve em esquecer.
E que esquecendo, não guarde mágoa.
Desejo, pois, que não seja assim,
Mas se for, saiba ser sem desesperar.
Desejo também que tenha amigos,
Que mesmo maus e inconseqüentes,
Sejam corajosos e fiéis,
E que pelo menos num deles
Você possa confiar sem duvidar.
E porque a vida é assim,
Desejo ainda que você tenha inimigos.
Nem muitos, nem poucos,
Mas na medida exata para que, algumas vezes,
Você se interpele a respeito
De suas próprias certezas.
E que entre eles, haja pelo menos um que seja justo,
Para que você não se sinta demasiado seguro.
Desejo depois que você seja útil,
Mas não insubstituível.
E que nos maus momentos,
Quando não restar mais nada,
Essa utilidade seja suficiente para manter você de pé.
Desejo ainda que você seja tolerante,
Não com os que erram pouco, porque isso é fácil,
Mas com os que erram muito e irremediavelmente,
E que fazendo bom uso dessa tolerância,
Você sirva de exemplo aos outros.
Desejo que você, sendo jovem,
Não amadureça depressa demais,
E que sendo maduro, não insista em rejuvenescer
E que sendo velho, não se dedique ao desespero.
Porque cada idade tem o seu prazer e a sua dor e
É preciso deixar que eles escorram por entre nós.
Desejo por sinal que você seja triste,
Não o ano todo, mas apenas um dia.
Mas que nesse dia descubra
Que o riso diário é bom,
O riso habitual é insosso e o riso constante é insano.
Desejo que você descubra ,
Com o máximo de urgência,
Acima e a respeito de tudo, que existem oprimidos,
Injustiçados e infelizes, e que estão à sua volta.
Desejo ainda que você afague um gato,
Alimente um cuco e ouça o joão-de-barro
Erguer triunfante o seu canto matinal
Porque, assim, você se sentirá bem por nada.
Desejo também que você plante uma semente,
Por mais minúscula que seja,
E acompanhe o seu crescimento,
Para que você saiba de quantas
Muitas vidas é feita uma árvore.
Desejo, outrossim, que você tenha dinheiro,
Porque é preciso ser prático.
E que pelo menos uma vez por ano
Coloque um pouco dele
Na sua frente e diga "Isso é meu",
Só para que fique bem claro quem é o dono de quem.
Desejo também que nenhum de seus afetos morra,
Por ele e por você,
Mas que se morrer, você possa chorar
Sem se lamentar e sofrer sem se culpar.
Desejo por fim que você sendo homem,
Tenha uma boa mulher,
E que sendo mulher,
Tenha um bom homem
E que se amem hoje, amanhã e nos dias seguintes,
E quando estiverem exaustos e sorridentes,
Ainda haja amor para recomeçar.
E se tudo isso acontecer,
Não tenho mais nada a te desejar ".

domingo, 30 de outubro de 2011

“Morre e transforma-te!”

"Milho de pipoca que não passa pelo fogo continua a ser milho de pipoca, para sempre.

Assim acontece com a gente. As grandes transformações acontecem quando passamos pelo fogo. Quem não passa pelo fogo fica do mesmo jeito, a vida inteira. São pessoas de uma mesmice e dureza assombrosa. Só que elas não percebem. Acham que o seu jeito de ser é o melhor jeito de ser.

Mas, de repente, vem o fogo. Pode ser fogo de dentro. Há sempre o recurso aos remédios. Apagar o fogo. Sem fogo o sofrimento diminui. E com isso a possibilidade da grande transformação.

Imagino que a pobre pipoca, fechada dentro da panela, lá dentro ficando cada vez mais quente, pense que sua hora chegou: vai morrer. De dentro de sua casca dura, fechada em si mesma, ela não pode imaginar destino diferente. Não pode imaginar a transformação que está sendo preparada. A pipoca não imagina aquilo de que ela é capaz. Aí, sem aviso prévio, pelo poder do fogo, a grande transformação acontece: PUF!! — e ela aparece como outra coisa, completamente diferente, que ela mesma nunca havia sonhado. É a lagarta rastejante e feia que surge do casulo como borboleta voante.

'Morre e transforma-te!' — dizia Goethe.

Em Minas, todo mundo sabe o que é piruá. (…) Piruá é o milho de pipoca que se recusa a estourar.

Meu amigo William, extraordinário professor pesquisador da Unicamp, especializou-se em milhos, e desvendou cientificamente o assombro do estouro da pipoca. Com certeza ele tem uma explicação científica para os piruás. Mas, no mundo da poesia, as explicações científicas não valem.
Piruás são aquelas pessoas que, por mais que o fogo esquente, se recusam a mudar. Elas acham que não pode existir coisa mais maravilhosa do que o jeito delas serem.

'Quem preservar a sua vida perdê-la-á'. A sua presunção e o seu medo são a dura casca do milho que não estoura. O destino delas é triste. Vão ficar duras a vida inteira. Não vão se transformar na flor branca macia. Não vão dar alegria para ninguém. Terminado o estouro alegre da pipoca, no fundo da panela ficam os piruás que não servem para nada. Seu destino é o lixo."

A Pipoca, Rubem Alves.

Não quero ser piruá!


terça-feira, 18 de outubro de 2011

in memoriam.

Não guardo lembranças do que senti na semana que antecedeu o meu último vestibular. No entanto, lembro da semana do meu último aniversário. Essas datas, antes suficientemente espaçadas, resolveram encontrar-se, em memória dos anos de colégio. E aqui estou: 18 de Outubro, véspera do meu aniversário; antevéspera do ENEM. O convívio com a UFAL não me preparou bem para esse momento, me acostumei a ter festa, nada pra fazer ou algo adiável... Foi lá também que conheci o imperador jeitinho, procrastinador sem culpa,  a quem agora saúdo.

Este ano não haverá festa. Há muito o que se fazer nestes últimos dias.
E preciso lembra-lo, seja você quem for, de que se corro agora, é por meu direito.

Em memória do meus 19 anos, assino: